Revista do
Correio Braziliense de 05 de Maio de 2013
Capa “A marca da vitória”
Ao ler a Capa da Revista do Jornal Correio Braziliense, de 05
de Maio, onde foi mencionado o título “A
marca da Vitória”- matéria sobre o câncer de mama - pensei....finalmente
encontraram a Cura.
Mas não. O teor da
reportagem é contraditório em relação a esperança que se tenta promover através
da reportagem.
Não posso entender como “vitória” a realidade atual que
mostra um número tão elevado, e que cresce a cada ano, de câncer de mamas em
mulheres. Não posso entender como “vitória”
o ritual psicológico, traumático e dolorido que ocorre após o diagnóstico. Justifico minha posição, considerando alguns
pontos:
ü A reconstrução mamária submete a
mulher a, no mínino, três cirurgias e, após a conclusão de todas as etapas, torna
a paciente refém de exames, de consultas e muitas vezes de várias outras cirurgias, para o resto da vida. Em muitos casos, submete
também a mulher a medicações pesadíssimas.
ü A retirada da mama leva junto toda
sensibilidade da mama da mulher, pois a reconstrução é apenas um item visual,
para melhorar a auto-estima.
ü As dificuldades de muitas mulheres
que dependem do SUS ou de planos de saúde para cumprir todas as etapas da
reconstrução mamária.
ü O forte sofrimento emocional ao
receber a notícia da retirada da mama.
ü O número elevado de mulheres que
enfrentam o abandono/separação após o câncer de mama.
A reconstrução mamária jamais devolverá a mama à mulher. Sua retirada leva junto toda sensibilidade e
é colocado em seu corpo um material artificial que, além de poder causar
rejeição, vai deixá-la para o resto da vida dependente de médicos, exames e
cirurgias. Isto não pode ser chamado de
“Cura”.
Porque não buscar um
novo caminho? Porque
não abrir uma nova frente pela não retirada da mama? Porque não investir mais e mais nesta idéia?
Ninguém pode negar: formou-se um mercado de retirada de mamas
muito forte e está crescendo a cada
ano. As mulheres, mesmo abaladas, se
rendem ao que está cientificamente definido.
A medicina e a sociedade
estacionam e não apostam em novos caminhos, de forma a oferecer opções para as
mulheres.
Retirar a mama não é hoje uma opção, pois ela vem precedida
de um pacote de desespero ao redor da mulher que a faz aceitar o que lhe é
sutilmente imposto.
Porque não investir mais, por exemplo, na Crioablação do tumor de mama, que busca
manter a mama da mulher?
Porque não investigar melhor as razões do baixo índice de
câncer de mama no Japão? As mulheres japonesas quando mudam para o
Brasil, ou para outros países, passam a fazer parte das mesmas estatísticas?. Por quê? O Japão, que tem um ritmo de vida acelerado que causa estresse à população, não
tem sido tão severamente afetado pelo câncer de mama.
A reportagem do Jornal cita que “uma paciente que não deixou
retirar a mama morreu”. E quantas
morreram mesmo tendo retirado a mama e tendo feito o tratamento rigoroso? Será que morreu devido ao câncer, ou foi em
razão da aura que se formou ao seu redor, pela sociedade em geral, que a deixou
psicologicamente abalada e não lhe deu mais nenhuma esperança de continuar a
viver?
Morrer é nossa etapa final.
Iremos todos morrer. Mas o
anúncio do câncer tem o poder destruidor de antecipar o clima de morte. Você jamais será olhado da mesma forma. Os
médicos, familiares e amigos irão sempre querer saber notícias do tumor. O resto deixa de ser importante. É como se somente aquele ser definido como
“doente” irá morrer. Todos ao seu redor começam
a parecer imortais. Se quiser continuar
a viver, trabalhar, não sentir o olhar de piedade, e etc, é conveniente não
divulgar seu resultado de exame.
Muitas mulheres, além das cirurgias para reconstrução de
mama, passam por pesadas quimioterapias preventivas de metástases. Muitas morrem da medicação, mas não há
interesse em divulgar isto. Não há estatísticas de quantas pessoas morrem do
câncer e quantas morrem da medicação aplicada.
Toda morte é contabilizada como câncer e pronto.
A Marca da Vitória somente se tornará uma realidade quando
não se restringir a uma simples tatuagem, mas sim quando cessar esta epidemia
de câncer de mama e quando a medicina puder oferecer opções de tratamento às
mulheres, deixando-as decidirem se querem ou não retirar sua mama.
Quando pudermos evitar o modelo padrão de tratamento, que é
muito caro, dolorido e às vezes até humilhante, então finalmente poderemos
afirmar: Hoje iniciamos uma nova era. A
humanidade conseguiu vencer mais um terrível desafio.
Maria José Lopes Sena
Administradora Postal da ECT - Aposentada
Sócia-Fundadora da SCMM MariaMaria
marjosena @gmail.com
marjosena
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