domingo, 19 de maio de 2013

PONTO DE VISTA - “CÂNCER DE MAMA” – POR QUE NÃO BUSCAR UM NOVO CAMINHO?



Revista do Correio Braziliense de 05 de Maio de 2013

Capa  “A marca da vitória”

Ao ler a Capa da Revista do Jornal Correio Braziliense, de 05 de Maio, onde foi mencionado o título “A marca da Vitória”- matéria sobre o câncer de mama - pensei....finalmente encontraram a Cura.
Mas não.  O teor da reportagem é contraditório em relação a esperança que se tenta promover através da reportagem.
Não posso entender como “vitória” a realidade atual que mostra um número tão elevado, e que cresce a cada ano, de câncer de mamas em mulheres.  Não posso entender como “vitória” o ritual psicológico, traumático e dolorido que ocorre após o diagnóstico.  Justifico minha posição, considerando alguns pontos:
ü  A reconstrução mamária submete a mulher a, no mínino, três cirurgias e, após a conclusão de todas as etapas, torna a paciente refém de exames, de consultas e muitas vezes de várias outras cirurgias,  para o resto da vida. Em muitos casos, submete também a mulher a medicações pesadíssimas.
ü  A retirada da mama leva junto toda sensibilidade da mama da mulher, pois a reconstrução é apenas um item visual, para melhorar a auto-estima.
ü  As dificuldades de muitas mulheres que dependem do SUS ou de planos de saúde para cumprir todas as etapas da reconstrução mamária.
ü  O forte sofrimento emocional ao receber a notícia da retirada da mama.
ü  O número elevado de mulheres que enfrentam o abandono/separação após o câncer de mama.
A reconstrução mamária jamais devolverá a mama à mulher.  Sua retirada leva junto toda sensibilidade e é colocado em seu corpo um material artificial que, além de poder causar rejeição, vai deixá-la para o resto da vida dependente de médicos, exames e cirurgias.  Isto não pode ser chamado de “Cura”.
Porque não buscar um novo caminho? Porque não abrir uma nova frente pela não retirada da mama?  Porque não investir mais e mais nesta idéia?
Ninguém pode negar: formou-se um mercado de retirada de mamas muito forte  e está crescendo a cada ano.  As mulheres, mesmo abaladas, se rendem ao que está cientificamente definido.   A medicina e a sociedade estacionam e não apostam em novos caminhos, de forma a oferecer opções para as mulheres.
Retirar a mama não é hoje uma opção, pois ela vem precedida de um pacote de desespero ao redor da mulher que a faz aceitar o que lhe é sutilmente imposto.
Porque não investir mais, por exemplo,  na Crioablação do tumor de mama, que busca manter a mama da mulher?
Porque não investigar melhor as razões do baixo índice de câncer de mama no Japão?    As mulheres japonesas quando mudam para o Brasil, ou para outros países, passam a fazer parte das mesmas estatísticas?.  Por quê? O Japão, que tem um ritmo de vida  acelerado que causa estresse à população, não tem sido tão severamente afetado pelo câncer de mama.
A reportagem do Jornal cita que “uma paciente que não deixou retirar a mama morreu”.  E quantas morreram mesmo tendo retirado a mama e tendo feito o tratamento rigoroso?  Será que morreu devido ao câncer, ou foi em razão da aura que se formou ao seu redor, pela sociedade em geral, que a deixou psicologicamente abalada e não lhe deu mais nenhuma esperança de continuar a viver?
Morrer é nossa etapa final.  Iremos todos morrer.   Mas o anúncio do câncer tem o poder destruidor de antecipar o clima de morte.   Você jamais será olhado da mesma forma. Os médicos, familiares e amigos irão sempre querer saber notícias do tumor.  O resto deixa de ser importante.  É como se somente aquele ser definido como “doente”  irá morrer. Todos ao seu redor começam a parecer imortais.   Se quiser continuar a viver, trabalhar, não sentir o olhar de piedade, e etc, é conveniente não divulgar seu resultado de exame.
Muitas mulheres, além das cirurgias para reconstrução de mama, passam por pesadas quimioterapias preventivas de metástases.  Muitas morrem da medicação, mas não há interesse em divulgar isto. Não há estatísticas de quantas pessoas morrem do câncer e quantas morrem da medicação aplicada.  Toda morte é contabilizada como câncer e pronto.
A Marca da Vitória somente se tornará uma realidade quando não se restringir a uma simples tatuagem, mas sim quando cessar esta epidemia de câncer de mama e quando a medicina puder oferecer opções de tratamento às mulheres, deixando-as decidirem se querem ou não retirar sua mama. 
Quando pudermos evitar o modelo padrão de tratamento, que é muito caro, dolorido e às vezes até humilhante, então finalmente poderemos afirmar: Hoje iniciamos uma nova era.  A humanidade conseguiu vencer mais um terrível desafio.
                                  
Maria José Lopes Sena
Administradora Postal da ECT - Aposentada
Sócia-Fundadora da SCMM MariaMaria 
marjosena@gmail.com

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